sábado, 11 de março de 2017

PORQUE alguns homens usam vestidos e algumas mulheres se irritam com isso

Poucas atividades conseguem atrair sobre si tanta repulsa e malícia quanto o crossdressing.

Pedofilia talvez seja pior.
Mas nem tanto.
Uma jornalista, ao descobrir que seu ex-marido era travesti, passou a considera-lo um pervertido e chegou a despejar um monte de roupas velhas dela na porta da casa da mãe dele, para torna-la ciente disso.

O que pode inspirar um ódio desse tamanho em tantas mulheres? Medo, eu suponho. Mas medo de que? Medo da competição pela gaveta de calcinhas? Medo de que ele pudesse ser gay? Medo de que ele irá alargar tudo, arruinando seus shorts e bermudas de lycra? Medo de que os vizinhos possam descobrir?
Vestir-se com roupas e acessórios normalmente usados pelas mulheres é uma das atividades mais inofensivas que existem por aí - e ainda assim é uma das mais incompreendidas pela sociedade.
Grande número de homens se veste a caráter para suas atividades – como maçons, soldados ou celebrantes – e o travestismo é só uma variação do tema “vestir-se a caráter”.

Entretanto, a sociedade considera que, o que a gente escolhe usar, define, em larga escala, o que que a gente é, quem a gente é e o que os outros pensam de nós.
O juiz usa toga, o padre usa batina, o cardeal usa, inclusive, uma batina especial (toda vermelha). Os reis usam manto e coroa. Porteiros de hotel, manobristas de estacionamento, comissários de empresas aéreas e pessoas em mil outros diferentes tipos de emprego usam roupas que ajudam a identifica-los. Mecânicos usam macacões. Médicos usam guarda-pós brancos.
À medida que nossa sociedade se torna mais e mais complexa, os uniformes se tornam mais e mais importantes. Nós inclusive classificamos as profissões das pessoas entre colarinhos brancos e colarinhos azuis.
Homens que se transvestem estão causando a ruína desta peça da máquina social, tão finamente balanceada. Assim, não é surpresa nenhuma que o crossdressing produza tanta confusão, espanto, ressentimento e tantos comentários pejorativos.
Apesar da popularidade do travestismo, pouquíssima coisa é conhecida a respeito deste “hobby” – além do fato de que um monte de homens o praticam (um monte de mulheres também se travestem mas, no caso delas, a prática do travestismo é socialmente aceita. Milhões de mulheres usam regularmente calças e paletós.).
A idéia de homens em roupas usualmente usadas pelas mulheres pode soar como uma piada. Mas não é. Vestir roupas femininas é, para milhares de homens, a melhor maneira de lidar com o stress e escapar das responsabilidades de ser homem. “Se eu não me montasse,” me diz um homem,”eu estaria morto. Eu tenho pressão alta que medicamentos não podem controlar. Usar roupa feminina coloca minha pressão sanguínea sob controle.
Números exatos são difíceis de se obter mas minha pesquisa mostra que, semanalmente, 100.000 de cada 1.000.000 de homens se vestem por algum tempo com alguma coisa macia, sedosa ou cheia de babados. Frequentemente eles apenas usam camisola e calcinhas debaixo dos seus trajes masculinos.
A maioria dos CDs vivem em constante medo de serem apanhadas. Cerca de um quarto dos travestis masculinos nunca ousou compartilhar seu segredo com suas esposas. Isso significa que, pelo mundo afora, milhões de mulheres são casadas com travestis – e não sabem disso. Em cada milhão de mulheres haverá em torno de 25.000 que não sabem que estão casadas (ou vivendo) com travestis.
O travestismo cruza todas as barreiras sociais e profissionais. Seu melhor amigo, seu parceiro de tênis, seu médico, seu chefe ou seu marido podem ser secretamente travestis. As chances são altas de que alguém que você conhece seja um crossdresser.
Aqui estão alguns fatos que eu levantei numa pesquisa com 1014 travestis britânicos: (é, eu penso, o maior levantamento feito com crossdressers)
Bem mais do que ¾ de todos os travestis usam regularmente roupa íntima feminina debaixo dos seus trajes masculinos. Muitos dos restantes fariam o mesmo se não tivessem medo de serem apanhados pelas esposas. Quase a metade de todos os travestis saem às ruas montados como mulheres e maioria deles é honesta o bastante para admitir que não enganam ninguém. Mas para a maioria este não é um aspecto importante. Eles querem se vestir como mulheres - não se tornarem mulheres. O travestismo deve ser um dos hobbies mais inofensivos. E, ainda assim, quase ¾ dos travestis masculinos admitem viver em medo constante de ser apanhados ou reconhecidos por parentes preconceituosos, vizinhos ou empregados. Um homem que me escreveu para colaborar com essa minha pesquisa precisou ir até uma cidade mais próxima para colocar sua carta anônima no correio. A maioria diz não entender porque as mulheres podem usar roupa masculina – e os homens não podem usar roupas femininas. Algumas esposas repudiam e zombam do crossdressing de seus maridos. Outras tratam o assunto com certa condescendência, embora se recusem a participar ou tentar entender. A toda hora eu recebo cartas lamentosas de travestis cujas esposas “autorizam” que eles se montem uma hora por semana – desde que façam isso em segredo. ¾ de todas as parceiras de travestis sabem que o homem das suas vidas veste roupas femininas; ¼ delas não sabe. Uma razão para manter o crossdressing em segredo é que, a maioria das esposas ou namoradas que ficam sabendo que seus parceiros são travestis, desaprovam totalmente esse comportamento. Elas perdem um bocado de diversão por serem tão egoístas, tão pouco generosas e terem uma visão tão estreita das coisas. Felizmente, mais de 1/3 das esposas e namoradas ajudam ativamente seus parceiros a se montarem como mulheres, escolhendo roupas e acessórios e fazendo maquiagem. Muitas admitem, inclusive, que ficam sexualmente excitadas ao verem seus parceiros produzidos como mulheres. É comum travestis, cujas parceiras aprovam, terem relações sexuais com elas enquanto estão montados como mulheres. A vasta maioria dos travestis são heterossexuais. Na média, um travesti passa 12 horas por semana vestido como mulher, mas gostaria de passar 70 horas (ou seja, mais da metade da semana “útil”) Um número cada vez maior de homens está descobrindo que colocar meias de seda e saia justa é a forma mais rápida de escapar das estressantes responsabilidade de ser homem. Eu não tenho dúvida de que os homens viveriam muito mais e seriam muito mais felizes se o travestismo fosse mais largamente aceito.
Acredito que travestismo é um dos hobbies menos prejudiciais de todos, e um hobby que nenhum homem devia se sentir envergonhado de praticar. É, creio eu, um modo perfeitamente aceitável de qualquer homem escapar dos estresses de ser homem em um mundo estressante. É divertido e claramente proporciona para muitos homens uma enorme quantidade de prazer. E é difícil pensar numa outra atividade que seja tão pouco propensa a causar dano a quem quer que seja.
Homens que se vestem com roupas femininas põe à mostra uma parte normal e saudável da sua própria feminilidade, alargando sua visão da vida e desfrutando de um repouso temporário das responsabilidades e demandas de ser homem.
Fico triste ao saber do grande número de mulheres que não aceitam o crossdressing dos seus maridos. A toda hora eu abro cartas de homens que, por causa do seu crossdressing, foram (ou estão sendo) tratados da maneira mais horrenda e hostil possível pelas suas esposas.
Como também acho que é uma terrorista qualquer mulher que tem a temeridade de dizer para o seu parceiro: “se você diz que precisa, então eu acho que você precisa – mas você só pode fazer isso por uma hora, uma vez por semana, e você deve se certificar que as cortinas fiquem bem fechadas e que eu esteja bem longe de casa e, a propósito, que eu não veja nenhum vestígio dessas suas ridículas coisas de mulher quando eu voltar”. Nenhuma mulher ousaria dizer coisa semelhante para um parceiro que tivesse como hobby o aeromodelismo ou o tênis.
É triste ver o travestismo ser considerado muito mais horrendo do que qualquer outra coisa – embora eu saiba que na raiz disso tudo estejam preconceitos completamente falsos e tão profundamente arraigados na nossa cultura.
Muitas mulheres acreditam que a maioria dos travestis são homossexuais ou candidatos a uma cirurgia para mudança de sexo. Mas, no cômputo geral, existe uma expressiva diferença entre travestis e transexuais. Transexuais são como jogadores de golfe – eles perdem suas bolas. Travestis são ávidos para conservar as deles.
Minha pesquisa deixou absolutamente claro que a vasta maioria dos travestis são heterossexuais e estão felizes de serem homens. Curiosamente, o crossdressing é tão mal entendido e comumente injuriado que algumas mulheres, sem dúvida, iriam preferi-lo se descobrissem que seus maridos são gays ou desejam uma mudança de sexo.


O Dr. Vernon Coleman, médico e pesquisador inglês internacionalmente famoso, é um crossdresser publicamente assumido, membro ativo da The Beaumont Society, um dos mais tradicionais clubes de CDs da Inglaterra. Os resultados completos da sua pesquisa sobre crossdressing aparecem no seu livro “Men in Dresses" (Homens em Vestidos)

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