segunda-feira, 13 de março de 2017

Naquela noite - CONTO

Luís sempre foi considerado um daqueles caras machos, sabe?
Daqueles que o pai sempre o lembrava que tinha que ser durão na vida. Desde criança lhe foi doutrinado que não podia chorar,
que tinha que pegar a mulherada (mesmo compromissado),
que mulher não tem que questionar homem
(as vezes elas podiam apanhar por conta disso)
e outros detalhes que homem podia ou não fazer para ser um homem de verdade.
Naquela noite, porém, ele deixou isso de lado e se viu como fêmea.

Seu dia a dia como rapaz festeiro é de se invejar.
 Todo dia pode ser dia de curtição.
 Viagens são corriqueiras no seu trabalho e em cada cidade diferente ele consegue um tempinho para uma balada.
 O seu carro chama a atenção por onde passa
com traços esportivos e cor vibrante.
E, por fim,
seu jeito de conversar agrada a todos os estilos
pois não importa onde vai ele sempre acaba se enroscando com uma moça (ou mais).
Apesar de tudo, ele continua pensando naquela noite.

Naquela noite o inesperado conspirava.
 Ele foi direto para a casa do Douglas, um conhecido,
onde iria encontrar com resto do pessoal para o esquenta da noite,
 porém eles tiveram um problema com o carro
 e ficaram presos no meio do caminho.
Os dois começaram o esquenta antes da notícia e se descobriram enquanto conversavam.
 O amor pelas séries de TV foi o assunto dominante e,
 em um determinado ponto,
descobriram que ambos praticavam natação
e trocaram argumentos sobre a eficácia da depilação nos treinos, obviamente um deles se depilava.

No perfil do conhecido havia uma foto dele travestido num carnaval com os amigos,
 isso também foi parte da conversa da noite e,
possivelmente, foi de onde surgiu a ideia de ir para o quarto da irmã experimentar umas roupas e rir um pouco.
Nenhum dos dois tinha prática com as coisas do mundo feminino e isso, somado ao álcool, deixava a brincadeira mais engraçada.
Um vestido florido mal colocado um Luís gerou muitas risadas.
 O caminhar tosco do Douglas em cima de um salto foi de tirar o fôlego. E ambos usando sutiã com muito enchimento dentro então? De dar gargalhadas! No entanto, no momento em que o Luís colocou um vestido preto e curto que deixava as suas longas pernas depiladas de fora, o Douglas perdeu o sorriso do rosto... Mas ele deve ter gostado do que viu! Isso ficou aparente na saia que ele estava vestindo e deve ter mexido com ele pois o fez deixar o quarto da irmã.


Luís não notou o volume estranho na saia do outra rapaz e,
falando a verdade,
 estava tão entretido com suas roupas
que nem notou ele deixar o quarto e continuou sua brincadeira.
Quando se olhava no espelho
também percebia que o vestido caía bem no seu corpo e
 pensou que seria mais engraçado ainda se ele tentasse se montar completamente.

Então foi atrás de um sapato que conseguisse andar,
 uma jaquetinha para esconder o braço e até arriscou um batom.
 A barba havia sido raspada pouco antes de sair de casa.
O cabelo estava meio comprido, só precisou jogar ele para um lado.
 Na frente do espelho ele viu que o resultado foi melhor que o esperado e já não conseguiu dar uma risada, o que apareceu no rosto dele foi um sorriso.
 Após se admirar um pouco resolveu ir atrás do dono da casa para ver sua reação.

Começou trupicando em cima do salto mas conseguiu chegar à sala,
 onde não encontrou ninguém.
Resolveu então andar até o quarto e, ao entrar, teve uma surpresa. Douglas estava de cueca na cama olhando alguma coisa no celular e o que era para ser uma entrada triunfalmente engraçada acabou sendo uma longa e desajeitada encarada.

Douglas: Cara, você já se olhou no espelho?

Luís, meio tímido: Sim! Engraçado, não?

Douglas: Você está uma gostosa!

Luís: Também percebi, mas não fale como se eu fosse uma mulher...

Douglas: Eu falo sério.
E mais, se você chegar mais perto pode ser que eu te faça uma...

Luís nunca tinha cogitado que estaria em uma situação como essa. Entretanto, ao se perceber em um reflexo
ele sentiu que gostaria de experimentar algo a mais naquela noite.
Ele resolveu então tentar dar os passos mais femininos que podia em cima daquele salto e seguir em direção a cama de Douglas.
Nesse momento ele esqueceu de tudo que tinham lhe ensinado e manteve sua mente limpa para a nova experiência.

Apesar de nunca ter algum tipo de contato intimo com outro homem,
ele teve inúmeras experiências com mulheres e
imaginou cada passo que iria dar.
Subiu na cama lentamente e foi engatinhou até se aproximar da cueca do rapaz.
 A respiração cheia externalizava o estado de êxtase.
 Nesse momento ele deu um beijo sobre o tecido.
Aquilo foi tão intenso que ele sentiu o pulsar com a ponta dos lábios.

Daí em diante, ele soltou a fêmea de dentro dele e fez tudo o que tinha vontade.
Sim, no fundo ele tinha vontade!
 Ele sempre viu o quanto as mulheres gemiam de prazer quando eram penetradas e se perguntava
 "como pode isso ser tão gostoso para elas?",
sendo assim ele aproveitou o momento para se entregar completamente.

Douglas também nunca teve relações com outro homem,
 mas para ele não fez muita diferença.
Tratou a situação como se estivesse com uma mulher e, pelo quanto ele se empolgou, ficou óbvio que estava curtindo o momento.

Nenhum saberia dizer quanto tempo durou.
Ambos deixaram acontecer, testaram poses diferentes, conheceram de perto as intimidades um do outro e finalizaram com estilo.
 Enquanto soava um gemido forte no ar o contato dos corpos se estreitava.
Esse momento mal podia ser lembrado sem o fogo subir!


Após a emoção passar e a cabeça de Luís retornar ao modo standby, eles se encontravam imobilizados, deitados de barriga para cima na cama.
 Não sabia exatamente o que fazer.
Não sabia se devia falar algo.
Até que resolveu se levantar, pegar suas coisas e ir embora.
Ao sair só reparou no corpo estirado sobre a cama, descansando profundamente.

Luís nunca falou dessa experiência com ninguém.
Alguns detalhes ele não consegue lembrar, mas outros ficaram muito bem gravados na sua memória.

Ele notou que o estado de submissão foi libertador para seus desejos. Percebeu que aquilo tudo que lhe falaram foi por água abaixo quando ele mesmo sentiu prazeres que nunca havia sentido antes.

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