Enquanto por aqui surgem páginas incentivando essa libertação, soube de países em que não há nada mais comum do que ver um marmanjo usando, por exemplo, roupas de colegial (saia plissada) e ninguém dando a mínima. E não foi apenas um amigo que me contou, enquanto comentava sobre o tempo em que viveu no Japão; também li isso em Kitchen, livro de Banana Yoshimoto (Nova Fronteira) composto por um romance (homônimo) e uma novela (intitulada “Moonlight Shadow“). Há coisas que nos marcam mais quando a conhecemos por meio da ficção, creio.
No romance, acompanhamos Mikage uma órfã que perde seu último parente (a avó, com quem vivia), sendo assim acolhida pela mãe de um amigo. Depois, descobrimos que esta mãe originalmente era o pai do amigo que, após a morte da esposa, decidiu que não teria outra esposa e que não só passaria a usar as roupas da mulher como se tornaria uma. Na novela que sucede o romance, algo semelhante ocorre: um acidente de carro mata tanto o namorado da protagonista, chamada Satsuki, quanto a namorada do irmão deste, chamado Hiiragi. Enquanto Satsuki contempla a possibilidade de suicídio, Hiiragi lida com o luto e com a saudade da namorada vestindo diariamente o uniforme escolar da falecida.
E não há nisso nada de estranho. Se há quem anseie por ver o personagem deixar de usar aquelas roupas é para vê-lo superar a dor dos enlutados.
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