Em Neon: sábado, 26 de novembro de 2016
Naquela noite de terça-feira (15/11), feriado, uma certa Dita chamou atenção das pessoas no Teatro Rival. Não era uma Dita qualquer, mas A Dita, personagem do ator Dan Venturi, que consquistava a plateia do Rival Rebolado e se tornava uma das semifinalistas do concurso "A Melhor de 4".
E quem é A Dita? Ela é personagem do espetáculo “Isla Bonita BR”, que o ator Dan Venturi faz performances de músicas da cantora Madonna. Esse é um projeto amplo que tem como embasamento, as letras das músicas da loiraça e a partir da desconstrução delas construiu-se um texto, que fala sobre duas personas (As Ditas), que discutem a liberdade, o poder, gênero, religião e devaneiam sobre a Isla Bonita, um lugar onde tudo é selvagem e livre. Para construir esse espetáculo, os atores Dan Venturi, Luan Machado, o iluminador Elton Pinheiro e a diretora Kamilla Neves buscaram influência da performance, do teatro experimental, aparições em festas, assim como sessões de fotos, vídeos e experimentos na rua. Durante o espetáculo essa história é contada de várias formas: o texto falado, a dança, a performance, o texto que vem junto com a trilha sonora, o canto, as vozes da Madonna que ecoam a todo tempo, e claro, ao som de várias músicas da rainha. O espetáculo termina no início de uma festa, a Isla Bonita Celebration, onde As Ditas se tornam oficialmente as anfitriãs, e dançam, performam, tocam e convidam os presentes a tocarem com eles numa divertida batalha de Ipods. Todos podemos ser Ditas, como um grande exército que tem sede de liberdade, de poder, onde a união faz a força. “As Ditas foram construídas a partir do mundo da androgenia (grande influência do grupo russo Kazaky e dos Dzi Croquettes) e das drag queens, o que nos fez investir mais ainda em performances isoladas em festas, e agora no Rival Rebolado e pode sempre se desdobrar a novas ideias, pois a Isla Bonita BR está sempre em constante transformação”, explica Dan.
Outra presença constante no trabalho de Dan é a nudez, que ele explica da seguinte maneira: “Ela caiu de paraquedas, na Isla Bonita BR. Nunca havia ficado nu em cena, inclusive para mim era uma dificuldade imensa, pois tinha insegurança com meu corpo, com esta exposição. Mas durante o processo do ensaio, simplesmente percebi o quanto era justo expor minhas ideias através da nudez dentro do espetáculo. Embarquei profundamente nessa questão e isso me custou o emprego (trabalhava Há quase quatro anos como professor e fui demitido por postar uma foto de um ensaio de cena de um nu no Instagram e no Facebook), e a partir daí percebi que era minha função artística chamar a atenção das pessoas para o nosso próprio corpo, para nossa própria nudez. Nós nascemos nus, todos os animais nesse planeta são nus, por que temos tantas questões com o nosso próprio corpo, e com o corpo do outro? Foi a partir disso que decidi fazer um primeiro ensaio de fotos nu na Flesh Mag (já havia posado para Sergio Santoian e Andre Medeiros, mas ainda assim de uma forma menos entregue e com restrições), que é uma revista virtual de nu masculino dos fotógrafos Rafael Medina e João Maciel, que assistiram ao espetáculo e chamaram eu e Luan para posarmos juntos, numa proposta diferente, conceitual, como se eu e meu parceiro de cena fossemos siameses, resultando no ensaio ‘Freak Flesh’. Logo em seguida, sozinho, com os fotógrafos Thais Tabosa e Rodrogo Tomzhinsky, fotoógrafos de Manaus, que atualmente moram no Canadá, topei fazer o ensaio principalmente porque eles misturavam a nudez das pessoas com o contato com a natureza e isso me chamou muita atenção, pois somos nus, viemos da natureza, e definitivamente precisamos parar de enxergar nudez somente como erotismo, pornografia. Também é, esse lugar existe e também deve ser falado, mas não é somente isso. Depois disso veio o ensaio ‘Foto Performance’ com o ator e fotógrafo Ditto Leite e o projeto ‘Men In The Light’ (que fala justamente do tabu da relação do homem com sua nudez e seu prazer) novamente (e dessa vez muita mais entregue) com Sergio Santoian.
Depois de desnudar um pouco Dan Venturi e sua Dita vamos ao #Alternativa, onde eles vão se desnudar ainda mais.
Dentro do Divertidíssima, Dan e/ou Dita respondem ao #Alternativa, falando com toda sinceridade sobre assuntos pertencentes a seu universo (ou não).
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O que é a #Alternativa?
Nessa “brincadeira” o convidado recebe várias duplas de palavras (que podem ser pessoas, sentimentos, situações...) e deve dizer qual das duas prefere e o porquê. Mas pode ainda escolher as duas ou nenhuma das duas palavras, e sempre explicar o motivo da escolha. Então vamos à #Alternativa Dan Venturi / A Dita.
DAN VENTURI X A DITA
A Dita está dentro do Dan e vice-versa. É como uma persona, um alter-ego, uma extensão de quem eu sou. Elx tem junto dela potências femininas e masculinas, e isso se revela claramente na forma como se veste, como age, como mistura os elementos do seu figurino e na sua maquiagem. É como se fosse uma entidade sem gênero, é homem, é mulher, é abertx, sem rótulos, sem preconceitos, e o Dan é tudo isso também.
RIO DE JANEIRO X CURITIBA
Acho as duas cidades incomparáveis. São as duas muito lindas, de forma diferente, assim como o comportamento das pessoas. Eu me sinto complementad@ de uma e de outra. Ao mesmo tempo ousad@ e reservad@. Ao mesmo tempo calor e frio. Sinto muita falta da minha terra natal, mas já não sei mais viver sem a malemolência carioca.
Só o que dói pode te fazer se sentir melhor, somente aquele que inflige a dor, pode tirá-la, já disse Madonna. Não se pode ter medo de sentir dor, porque nessa vida nos machucamos muito, e cada dor nos ensina a ter menos medo de enfrentar as barreiras. Enquanto se está machucadxs, por muitas vezes não enxergamos o quanto essa dor nos trouxe bravura e nos fez saltar por cima de qualquer medo que nos atravesse.
Nudez é sempre bem-vinda, até mesmo "praqueles" que não admitem. Estar nu é estar consigo mesmo, e não há razão para castigar-se por isso, mas sim celebrar cada pedaço nosso de pele, cada perfeição, cada imperfeição, cada marca que a vida coloca no nosso corpo. Estar nu é relacionar-se de forma aberta e sincera com quem nós somos, da forma mais crua.
É gostoso quando consegue se ter os dois juntos não é mesmo?
MADONNA X LADY GAGA
Prefiro Madonna E Lady Gaga. Tem espaço pra todxs, cada qual com suas expressões artísticas, com suas inspirações. Impossível não se inspirar na Madonna, e assim como todas Gaga faz isso, e muito bem. Leave Gaga alone! Risos.
PÚBLICO X PALCO
Não somos nada no palco sem um público, nem que seja uma pessoa, nem que essa pessoa seja sua diretora!
HOMOFOBIA X TOLERÂNCIA
Tolerância sempre! Homofobia não está com nada! Não consigo compreender como algumas pessoas ainda não entenderam que não escolhemos o que sentimos, o sentimento apenas existe, e se esse sentimento é amor, é isso que vale. Prá mim tem que consertar a guerra, a fome, o ódio, a injustiça, os sentimentos obscuros... tudo que é amor é válido pra mim.
NAMORO X AMIZADE
Amizade sempre! Amizade dentro do namoro, amizade se terminou o namoro, preferência sempre pelos amigos (porque eles que sempre estão ao seu lado), e quem estiver te namorando que te acompanhe! Eu faço questão de acompanhar os amigos de quem eu esteja namorando. É um prazer ter a amizade sempre perto, e se isso para de acontecer é porque algo está errado!
Casamento LGBT por favor!!! Chega de armário, chega de amarras! É tão ruim esconder-se de quem realmente somos, é tão ruim viver com medo, é tão ruim ter vergonha de quem você é...
Acredito piamente no ditado “Tamanho não é documento” (e não é MESMO!)
PRIMEIRA VEZ X PRÓXIMA VEZ
Não curti muito minha primeira vez não (rsrs)... quer dizer foi legal, foi com alguém que eu gostava muito, mas senti muita vergonha, senti desconforto... mas as próximas vezes foram muito melhores. As que foram piores com certeza serviram pra me ensinar a melhorar, e acho que tenho melhorado a cada próxima vez (rsrsrs)!
EDUCAÇÃO FÍSICA X TEATRO
Eu nunca tinha conseguido compreender a relação entre as duas coisas até vir morar no Rio. Em Curitiba eu separava muito as coisas, mas quando cheguei no Rio e comecei a, de fato, fazer uma faculdade de teatro, entendi, de forma mais clara, a importância do corpo do ator no meu trabalho, comecei a usar meus conhecimentos na minha formação em Educação Física ao meu favor, tanto na conciliação entre dar aulas para me sustentar, quanto no meu trabalho artístico, na forma como eu cuido do meu corpo (atividades físicas são necessárias para termos tônus – acima da estética, ela é consequência de uma vida saudável – e criarmos consciência corporal). Mas de fato, o que eu amo profundamente é o teatro! Vejo a Educação Física como uma madrinha, uma paixão, que vai sempre me acompanhar e refletir no meu trabalho artístico e me auxilia muito, mas o palco, as câmeras, as histórias que posso contar como artista, o amor que eu sinto pelo teatro... ah, isso é inigualável!
DEUS X DIABO X BUDA
Ter encontrado o budismo na minha vida foi como tirar toneladas de peso e culpa das minhas costas. Compreender que está tudo dentro de nós: o bom e o mal, e que transformar seus karmas negativos em coisas boas é um exercício diário que somente você pode fazer, fez com que eu entendesse que tudo o que queremos é possível nessa vida. Não podemos esperar que caia do céu, precisamos agir, a oração serve para nos conectar com o universo e com o nosso interior, mas a transformação, a iluminação, depende somente de nós mesmos, das nossas atitudes. Como queremos que nosso redor se transforme, se não transformamos a nós mesmo primeiro? Uma coisa que eu aprendi com o budismo: quando iluminamos a escuridão do próximo, estamos automaticamente iluminando nossa própria escuridão. Não existe maldade maior do que as que enfrentamos diariamente nesse mundo. Somos todos budas, a energia está dentro de nós e não acima, e quando se compreende isso, somos muito melhores pra nós mesmos, pras pessoas.
Dar-se por vencidx JAMAIS! Algumas pessoas às vezes me chamam de loucx porque me mudei pra uma cidade completamente diferente da minha, com 400 reais no bolso. Muitos disseram que eu não aguentaria um ano. Já fazem 7 que estou aqui, buscando meu lugar ao sol, tentando me expressar como artista que sou, e mesmo quando me sinto um ET, por sentir e pensar o que sinto e penso, nunca cogitei desistir. O que me faz crer que vim para essa existência com alguma razão, é poder lutar sempre pelo que acredito, é levantar todas as vezes que caio, é enxugar as lágrimas sempre, é dar valor aos amigos que a vida coloca no nosso caminho, estar sempre perto dos meus pais e do meu irmão (mesmo eles fisicamente longe), é estar de bem com meu coração, com minha alma e ter essa voz que fala dentro de mim que eu vou chegar onde quero, que tudo acontece na hora certa, que nada é por acaso, e quem desperta isso é a luta é não a desistência.
Fotos: Eduardo Moraes / Maurício Code / www.emfotos.com.br / Thais Tabosa / Bruno Lagrutta / Sergio Santoian
Por: Eduardo Moraes
Eduardo Moraes é jornalista formado pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) além de fotógrafo há 15 anos. Em seu curriculum estão o Jornal e Site Abalo, a Exposição O "T" da Questão e o Livro Avesso - Meu Lado Certo. Atualmente é editor-chefe do site www.EmNeon.com.br
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