segunda-feira, 13 de abril de 2020

A terceira pessoa

A terceira pessoa
Num texto anterior, a Camila Stein colocou que uma CD tem duas pessoas dentro do seu corpo: o seu lado masculino e seu lado feminino. Eu vou colocar para vocês uma terceira pessoa: o mediador. O mediador funcionaria como o nosso super ego, aquele que diz o que deve ser feito quando estamos na identidade masculina e quando estamos na identidade feminina.
Ainda há gente que confunde crossdresser com homens efeminados. Pode haver crossdressers que sejam homens efeminados no seu dia-a-dia, mas boa parte delas não o são. E aí que entra o mediador, que não irá permitir que o João aja como se fosse a Maria quando estiver no trabalho, ou que a Maria aja como se fosse o João quando produzida.
O mediador também auxilia na exposição que a garota terá. Assim, será o mediador que irá dizer “vá para a rua” ou vai dizer “alguém pode lhe reconhecer na rua”. É ele que controla os instintos das duas pessoas que habitam o seu corpo. O mediador é fundamental para qualquer crossdresser, pois será exatamente ele que deixará você ser a Maria e o João, em tempos diferentes, mas dentro do mesmo corpo.



Maquiagem crossdresser
No último texto, eu expliquei como você pode se montar pela primeira vez. Agora daremos uma atenção especial a maquiagem. A maioria das crossdresser desejam ficar iguais as mulheres comuns e as mulheres comuns não usam quilos e quilos de maquiagem. Faça o mesmo, não pense no que mais eu posso colocar no rosto, mas o que é desnecessário para deixar o seu rosto harmônico. Muita maquiagem, dará uma impressão artificial e talvez você fique mais parecida com uma drag queen do que com uma mulher. Além disto, muita maquiagem pode agredir e não conquistar.
Uma mulher ao sair a noite ou em ocasiões especiais normalmente usa para se maquiar: base, pó compacto, lápis de olho, baton, sombra, himmel e blush. O ideal é usar também todos estes itens para a sua maquiagem, combinando a cor do baton com a sombra.
O princípio de tudo é barba, faça ela muito bem feita. O ideal é que a sua pele fique parecida com bundinha de nenê de tão lisa, assim você não precisa disfarças nenhum pêlo. É primordial ter uma boa base. Escolha uma base com a tonalidade semelhante ao do seu rosto. Passe uma pequena quantidade de base pelo rosto e espalhe de forma uniforme. Depois da base é a hora do pó. Espalhe o pó pelo rosto e depois tire o excesso com um algodão. Passe o algodão de leve, só para tirar os excessos.  
Preparada a tela, vamos as pinturas. Comece pelos olhos, delineie os seus olhos com o lápis e depois puxe um pouco mais até próximo as sobrancelhas. Passe o himmel sobre os seus cílios puxando levemente para trás. Caso borre, passe um algodão. Espere o himmel secar e só depois passe a sombra. Prefira colocar sempre duas cores de sombra, uma mais clara na parte alta das pálpebras e uma um pouco mais escura na parte baixa. 
Depois da região dos olhos, modele a sua boca, passando o baton. Delinei os seus lábios com o lápis para o olho passando-o pelos contornos.  Feche a boca delicadamente. Por último passe o blush pelas maçãs do rosto e veja o resultado no espelho. Se lá ainda estiver um rosto que não é familiar com seu lado feminino, comece tudo de novo, observando quais foram as falhas da sua maquiagem. Errar é uma ótima forma de aprender.




AAMMMEEEEIIIIIIIIIIIIIIIIIIII....


NÃO existe mais homem e mulher,masculino e feminino


BRENO ROSOSTOLATO* -


Precisamos falar sobre nós. Necessitamos olhar mais para fora e sair do conforto do quadrado que nos molda. A propósito, o que nos falta mesmo é contorno sem molduras e, para isso, precisamos mesmo nos desapegar de algumas coisas. O primeiro passo é começar o quanto antes a repensar nossas certezas, que na verdade não nos pertencem.

Tais certezas são alimentadas por este quadrado fictício. Nossas convicções estão para nós o que a pílula azul está para a matrix. As pessoas querem acreditar naquilo que não as conduz para reflexões. Viver a mesmice, as normoses é conformar-se com a mediocridade. E a sexualidade? Vai muito bem, obrigado. Está em constante transformação e é sobre isso que precisamos conversar.

A concepção binária de que existem homens e mulheres, definitivamente, não existe. A ideia homem/mulher, bem como masculino/feminino, é uma criação social que escraviza o corpo. Porque o corpo muitas vezes não corresponde à identidade de fato da pessoa.

Moldes

Os gêneros são moldes a favor desta escravização dos corpos e da sexualidade, arbitrariamente conduzindo o prazer, o desejo e a singularidade de cada um. François de La Rochefoucauld, aristocrata e moralista francês já dizia: ‘Nada é tão contagioso quanto o exemplo’. Referindo-se aos gêneros, esta crise existencial do ser humano emerge porque não segue mais tais exemplos. Não admite, inclusive, modelos estereotipados, segregadores e censores ou, de fato, não existem exemplos, o que existe são subjetividades e identidades plenas.

O que é considerado minoria, estranho, anômalo, doente e bizarro grita e se faz escutar. Reivindica uma liberdade que não é absurda, mas é emergencial, para todos. Uma autonomia que reverbera rompendo com preconceitos e discriminações. E diga-se de passagem, autonomia é não viver atrelado a padrões.

Aos que dividem o mundo entre minorias e maioria, o discurso entorpecido se enfraquece. No mesmo movimento que na sexualidade não existem padrões, ouso afirmar que não existem maioria. O que existe são pessoas amedrontadas com uma realidade que não as torna exclusivas ou únicas.

Binaridade

Existem pessoas que não se encaixam à esta binaridade de gênero, masculino/feminino. Não se reconhecem exclusivamente homem/hombridade nem mulher/mulheridade. Possuem características individuais que se afastam do enquadramento exclusividade/totalmente/sempre dos gêneros.

Os não-binários ou genderqueer são identidades muito particulares à pessoa, portanto devem ser respeitados, já que transitam livremente pela rigidez dos gêneros. Possuem uma expressividade individual que não é generificada e inclui neutralidade, ambiguidade, multiplicidade, parcialidade, ageneridade, outrogeneridade e fluidez de gênero.

O conceito não-binário é exclusivo das identidades trans* (transexuais, transgêneros, travestis, crossdressers, dragqueens e dragkings). A skoliorromanticidade (skolio vem do grego ‘tortuoso, desviante’) é uma identidade romântica, uma orientação romântica, que se caracteriza pela atração romântica por gêneros não-binários e genderqueer, independentemente da expressão de gênero. Não são, necessariamente, skoliosexuais, que seria a atração sexual por gêneros não-binários.

Não-binários

Algumas reflexões suscitam da premissa de uma não-binaridade. A primeira destas reflexões está relacionada à cisnorma. Uma cisnormatividade que patologiza. A mudança de classificação do Transtorno da Identidade de Gênero para Disforia de Gênero continua estigmatizando e mantém o engessamento da autonomia. O estranhamento social não faz do diferente um doente, mas apenas um outro. Não tem como patologizar as possibilidades. Tudo é possível quando pensamos na sexualidade.

Outro questionamento: precisamos ter um gênero para se socializar? Até que ponto interagimos e nos vinculamos ao outro partindo da intelecção dos gêneros?

O corpo, que deveria ser privado, público, é violentado psicologicamente pelas constantes intervenções sociais. Fisicamente nem se diga. A saúde do corpo é a preservação física e emocional e não a aniquilação, a castração pelo preconceito. Numa medida desesperada para não adoecer, este corpo flagelado suplica por aceitação e se sujeita à repressão. Um corpo abjeto que deveria ser respeitado e não relegado às perversões reacionárias de conceitos arcaicos.

Identidade

O empoderamento do discurso não-binário é a favor do esclarecimento e clarificação e do respeito. No mínimo, as pessoas não-binárias suscitam outro olhar sobre a construção da identidade, em que identificar-se é também reconhecer que não precisamos nos identificar se assim não contemplar, preencher o ‘EU’.

E nesta dualidade, neste paradoxal binarismo entre o certo/errado, bem/mal, o bom/mau, céu/inferno, claro/escuro, real/fantasia, puro/impuro, masculino/feminino, homem/mulher, anima/animus é que pautamos nossas escolhas. Todavia, o ‘Eu e o outro’ é a binaridade em que deve prevalecer a sensatez, cordialidade, a compreensão e reciprocidade. Ela ou ele é uma binaridade que sai de cena.

As certezas saem de cena, porque nada é, de fato, certo neste mundo. Nada é tão legítimo do que  a percepção de si. Devemos legitimar essas percepções e não entorpecê-las com discursos estereotipados. Os equívocos são muitos – o ser humano é um – mas o designo é, no mínimo, limitador, tal qual os pressupostos, que implicam em supor sem sustentação, e que, muitas vezes, não abarcam as pluralidades do indivíduo. Somos reféns destes desígnos e por isso, refletir sobre a não-binaridade é necessário. A preocupação é ampliar do que responder. Depois de tudo isso, uma pergunta ainda persiste: ‘Afinal, é ela ou ele?’.

E isso importa?

Fonte: paupraqualquerobra.com.br

*Breno Rosostolato é psicólogo, formado pela Universidade São Judas Tadeu desde 2004, psicoterapeuta clínico especialista em sexualidade humana, pós-graduado em Arteterapia pela Universidade São Judas Tadeu e Hipnose Clínica pela PUC-SP. Professor da Faculdade Santa Marcelina, dos cursos de enfermagem e nutrição, campus Itaquera. Articulista sobre artigos ligados à psicologia, sexualidade, comportamento e tendências dos sites Mix Brasil (portal UOL), Be Style (postal R7), portal Terra e IG e ainda nos sites Top Vitrine e Nosso Clubinho (conteúdo infantil). Em 2008 lançou na Bienal seu primeiro livro de poesias, Escancarado.



terça-feira, 7 de abril de 2020

https://freakshowbusiness.wordpress.com/2010/10/08/quando-o-macho-alfa-vira-beta-a-tendencia-com-duplo-sentido-dos-homens-vestidos-de-mulher-no-showbiz/