Adaptação de fatos reais por Suzy Kelly
Uma crossdresser, em sua versão sapo, foi à casa de um velho amigo, um daqueles que não fazem a mínima idéia de sua orientação sexual ou do seu crossdressing.
O tinha conhecido no tempo que eu fazia cursinho preparatório para ingressar na faculdade e durante muito tempo foram bons amigos. Mas, com o tempo, perderam contato.
Passado alguns anos, a nossa crossdresser teve a oportunidade de rever o velho amigo, agora com esposa e uma filhinha.
Ao olhar para aquela cena, de uma família constituída, ficou sensibilizada ao ver seu velho amigo cuidando de sua filha com amor e carinho e sua esposa sorrindo orgulhosa. E seus olhos se encheram de lágrimas. Não só pela beleza da cena, da ternura existentes entre eles, mas principalmente por ter realizado aquilo que era de certa forma, o mais próximo que chegaria de uma jovem família, pois achava que nunca teria a sua própria.
Naquele momento a nossa CDzinha, mais do que nunca, desejou ter nascido um homem ou uma mulher heterossexual, para que pudesse desfrutar daqueles momentos com sua própria família, encontrando a felicidade e a realização, tendo em seus braços uma pequena criatura que contivesse parte de sua herança genética.
Nesse momento, começou a rejeitar o seu jeito de ser, sentindo um vazio, pois sabia que, por ser crossdresser, sua existência poderia ser sempre incompleta. Sempre querendo ser mulher, mas nunca realmente sendo. Sempre querendo viver um grande amor, mas nunca realmente vivendo. Sempre querendo ter uma família esperando por ela em casa, mas nunca tendo.
Porém, existia um outro impasse: mesmo que reprimisse meus instintos, casasse e tivesse filhos, sendo uma crossdresser, não se sentiria completa. e, por isso, gostaria de poder ser algo diferente.
Foi quando uma colega crossdresser, casada e com filhos, depois de escutar seus lamentos, disse:
Você abordou um tema que nos sensibiliza toda crossdresser.
Constituí família, tive filhos, senti as emoções de ser pai. Dividi com minha esposa as tarefas de mãe. Fiz churrascos com a família, joguei pelada e empinei pipa com meus filhos, fizemos castelos de areia na praia, pescamos juntos e rolamos no tapete da sala. Enfim, fiz tudo que se pode chamar de, digamos, normal e realizador para os padrões e álbuns de fotografias daquilo que entendemos e almejamos como família.
Quero com isso dizer que também senti tudo aquilo que você presenciou na família de seu amigo. Não me arrependo do que fiz. Muito pelo contrario. Tenho imenso orgulho da minha família. Sou grata a Deus por tê-los e não os deixaria por nada. Tenho a compreensão deles. E tenho na medida do possível conseguido conciliar minha vida de pai com a vida de crossdresser.
Mas veja como fica o coração.
Se eu hoje tivesse que começar de novo, ou tivesse que dar um conselho a uma amiga eu diria que não se deve tentar enganar a si mesmo. Eu tentei durante toda a minha vida fugir da minha realidade. E hoje o preço que eu pago é algo que eu não sei se vou suportar.
E depois de imaginar ter conseguido realizar todos os meus sonhos, olho para dentro de mim e descubro que tentei em vão negar a minha verdadeira essência. Impossível. E mais: vou carregar sempre um sentimento de culpa por ter feito minha família e mormente meus filhos muitas vezes infelizes pelo fato de terem um pai que, com toda a certeza, não é o pai que todo filho sonha. Tenha tentado compensar de todas as formas minhas imperfeições, mas eu tenho consciência de que isto é impossível.
Enfim, pela nossa própria condição, pela nossa dualidade, vamos sempre achar que escolhemos o caminho errado, pelo simples fato de não conhecermos, na realidade, o outro lado da vida.
Mas, a verdade é que durante toda nossa existência nos deparamos com a difícil tarefa de escolher. E escolher nossos caminhos é na maioria das vezes decisivo para nossa felicidade e para as nossas realizações. A grande verdade é que não existe argumento que supere as evidências. E não existe razão que supere o coração.Não devemos negar nunca nossa intrínseca trangeneridade. Ou até mesmo imaginar subterfúgios que possam dissimula-la.
Arrepender-se por ter feito é remediável, suportável e, as vezes, até reversível. Porém, a dor da angústia de não termos tentado fazer é irremediável, insuportável e quase sempre irreversível.
"Eu não quero ter razão!! Eu quero ser feliz" (Plínio Marcos)
Fonte :http://www.bccclub.com.br/
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quinta-feira, 7 de junho de 2018
Fases em nossas vidas
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